Por passarem a maior parte da nossa vida escondidos e por serem a terminação do corpo nos antípodas do nosso cérebro e dos nossos olhos, os pés são frequentemente esquecidos no que toca à sua beleza e saúde. Os pés são a base e o suporte de toda a estrutura do corpo humano, desde que nos erguemos pela primeira vez bem cedo na infância e durante toda a nossa vida, percorrendo durante esta cerca de 120.000 Km. Daí a importância para o equilíbrio e capacidade locomotora, do diagnóstico e tratamento de qualquer problema que afecte a saúde dos nossos pés.
As deformidades e doenças dos pés causam desconforto e dor dentro dos sapatos, afectando milhares de pessoas durante milhões de horas diárias. Constituem também um importante problema estético, que não deve ser menosprezado ou minorizado relativamente a outras partes do corpo só por estas se encontrarem habitualmente mais expostas. Determinadas ocasiões sociais, principalmente relacionadas com o desporto ou lazer, ou até da intimidade, implicam a nudez dos pés e a existência destas doenças ou deformidades podem condicionar o comportamento e a total realização da pessoa.
Os principais factores que condicionam o aparecimento destas deformidades são a hereditariedade e o uso de sapatos de salto alto e bico estreito. Existem ainda outras causas, menos frequentes, como as doenças degenerativas e alterações neurológicas.
Existem determinadas situações em medicina que requerem tratamento antes do aparecimento das queixas, isto porque quando elas existem podem estar já associadas a alterações irreversíveis dos tecidos. A patologia dos pés é um exemplo, na medida em que a dor pode ser já o resultado de um desgaste gradual das articulações do pé ao longo dos anos.
A formação de calos traduz normalmente uma deformidade do pé com uma zona de hiperpressão e constitui um alerta para este problema.
A Cirurgia do Pé é uma das áreas da Ortopedia que mais se tem desenvolvido nos últimos anos.
Com o aperfeiçoamento de novas técnicas é possível oferecer hoje, tratamentos com períodos pós operatórios mais confortáveis, menos dolorosos e livres das incómodas imobilizações, que são actualmente substituídas por um calçado apropriado que o doente deve usar durante cerca de um mês. A recuperação funcional é mais rápida e o doente não é obrigado a grandes alterações nas suas actividades quotidianas.
Na cirurgia percutânea e mini-invasiva do pé, os cortes ósseos (osteotomias) e as plastias de tecidos moles, para o realinhamento ósseo e articular, são feitos através de pequenas incisões, minimizando as perdas de sangue e o risco de infecção. É efectuada com anestesia local-regional, o que permite que seja feita em ambulatório e que o doente regresse a casa pelo próprio pé.
Através da cirurgia percutânea ou mini-invasiva do pé é possível tratar a maioria das patologias, tais como:
Joanetes
Deformidade do primeiro dedo, ao nível da articulação que o une ao restante pé (articulação metatarso-falângica), que condiciona uma proeminência interna e o desvio externo do dedo. A deformidade é mais correctamente denominada hallux valgus. Hallux é o termo em latim que significa o maior dedo do pé e valgus é a posição que este assume em relação ao eixo longitudinal do corpo, isto é, em valgo (afastando-se do eixo do corpo)
Hallux Rigidus
Doença degenerativa da articulação metatarso-falângica do 1º dedo do pé. É caracterizada pelo desgaste da cartilagem (artrose) mais frequente nos homens, com formação de protuberâncias ósseas e rigidez e pode progredir até ao bloqueio complete do movimento do dedo. A dor pode variar de acordo com o grau de evolução da doença, com o tipo de calçado utilizado e com a actividade física exercida. Em 80% dos casos existe um acometimento bilateral.
Metatarsalgia
Dor plantar na base dos dedos, geralmente no 2º,3º e 4º dedos. Deve-se geralmente a uma pressão excessive e durante um período prolongado de tempo. Muitas vezes associada a pontos de pressão plantar (calos) nas zonas dolorosas.
Doença de Morton
Tumor benigno do nervo interdigital por compressão crónica, normalmente entre o 2º e 3º ou 3º e o 4ºdedos, que provoca dor e sensação de formigueiro ou choque eléctrico na região plantar do pé e respectivos dedos. Pode acontecer a qualquer idade, principalmente nas mulheres de meia-idade, limitando a marcha nos períodos dolorosos.
Joanete do 5º dedo
Deformidade do bordo externo da base do 5º dedo, semelhante ao hallux valgus. Também denominado o joanete do costureiro por ser frequente em pessoas que utilizavam as antigas máquinas de coser que eram accionadas a pedal.
Deformidades dos dedos
Os dedos dos pés (2º,3º,4º e 5º) são os dedos posicionados externamente ao hallux. As articulações envolvidas são a da ponta do dedo, a do meio do dedo ou a que o dedo ao restante pé. A forma e o comprimento dos dedos (como por exemplo o pé grego em que o 2º dedo é maior do que o primeiro) e o uso de calçado apertado estão entre as diversas causas destas deformidades. Os dois tipos de deformidades mais comuns são o dedo em martelo e o dedo em garra.
Fasceíte plantar e esporão do calcâneo
Processo inflamatório na fascia plantar, que se caracteriza por dor no calcanhar e planta do pé durante a marcha, principalmente após um período de repouso. É frequente em doentes com patologia reumática ou com indice corporal aumentado. Muitas vezes vem acompanhado com uma calcificação óssea no calcanhar chamada esporão, que quando é proeminente, também causa desconforto limitando a marcha nos períodos dolorosos.
Em suma, nos dias que decorrem é mais fácil ter acesso a técnicas e métodos de tratamento menos invasivos para a maioria da patologia dolorosa e deformante do pé. Com anestesia local regional do tornozelo é possível realizar praticamente todo tipo de cirurgias no pé, dando maior segurança e conforto na recuperação e conseguindo resultados estéticos satisfatórios.